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Foto do escritorMonique Olsen

O Poder da Beleza

Atualizado: 22 de ago. de 2019

O charme de uma pessoa bonita ou de um lugar bonito é imediato. Porém, o conceito de beleza em si é misterioso. Para muitas pessoas, beleza é como uma promessa de felicidade, por isso investem nesse departamento da mesma forma que se investe em educação, na bolsa de valores e etc. Mas o que faz algo ser bonito?


Parece que não existe uma forma específica para algo (ou alguém) ser declarado belo e desse modo o conceito de beleza é desvantajoso para a ciência, no qual seus conceitos devem ser incorporados de forma prática. O ditado popular inglês: 'beauty is in the eye of the beholder' "a beleza está nos olhos de quem vê" pretende acabar com a discussão sobre aquilo que é belo, sendo que a beleza só poderia ser descrita por quem vê, porém alude a mais questões:


O que faz algo ser bonito para nós e não para outros?

Por que a beleza é tão importante para nós?

Qual é o segredo da beleza?

Qual o poder da beleza?


Por muito tempo tentamos descrever o que seria o belo por conta de atributos dos objetos belos, o que não foi uma tentativa de muito sucesso. Desta forma, Kant, em Critique of the Power of Judgment (2002), relata que a resposta central em perceber algo como belo é o prazer que aquilo que é belo nos provoca. Assim ele não 'perdeu tempo' com descrições sobre o que é belo, mas com a resposta que temos diante do objeto que é belo. Nesse sentido, a característica 'especial' de qualidades como beleza, harmonia, elegância, melancolia, serenidade e sobriedade é a experiência afetiva.


Assim, poderíamos declarar que é difícil conceituar o belo pois a reação que o belo provoca é inconstante, é afetiva.


Contribuindo para essa forma de pensamento descobre-se que a beleza é mensurável pelo prazer proveniente dela e que, dependendo, o estado de espírito do homem transforma a sua percepção mundo. O prazer que o belo propicia pode responder a questão da importância da beleza, afinal os afetos estão ligados ao estado de espírito do homem. Assim, pode-se discutir sobre os momentos em que uma beleza poderia nos tocar profundamente mas que somos incapazes de reagir por conta do humor. A satisfação de presenciar algo belo, portanto, depende do estado psicológico do espectador.


Para além das questões das emoções ditando o que é belo, parece que a busca pela beleza revela uma disposição do homem em procurar no corpo o prazer simbólico ou material necessário para a conquista da felicidade. Assim, não é apenas as emoções que propiciam a beleza, o belo também tem poder sobre as emoções. É como se fosse um relacionamento paradoxal onde é impossível descobrir qual característica que influencia a outra. A emoção (prazer e desprazer) e a beleza seriam como a ação e a reação juntos. Nesse sentido, Armstrong (2005) relata em seu livro que:


Quase todos os nossos prazeres e satisfações nos prendem; eles nos mantêm dentro do ciclo interminável de querer e desejar. Mas, com o prazer da beleza, estamos livres disso: escapamos do desejo. (Armstrong, 2005, p.62, tradução nossa) [ 1 ]
A beleza dá origem ao desejo, e então o desejo aumenta e aprofunda a sensação de beleza. (Armstrong, 2005, p.65, tradução nossa) [ 2 ]

Para Armstrong (2005), quando nos deixamos envolver com o objeto belo, este pode carregar em si o papel de transportar a alma para o todo em nossa natureza, indiferente do papel simbólico que o motivo belo carrega em si. Provavelmente o autor produz essa relação por conta do papel paradoxal que a beleza carrega em si. A beleza influencia emocionalmente e é influenciada, é desejante e deixa escapar o desejo.


Armstrong continua seu raciocínio:


Aquilo que é realmente belo não requer que abandonemos nossas preocupações sexuais, morais ou políticas. No entanto, se quisermos vê-lo como bonito - em vez de apenas bom, sexy ou politicamente correto - devemos manter essas preocupações a uma certa distância. (Armstrong, 2005, p.66) [ 3 ]

Armstrong (2005), procura diferenciar a beleza da moralidade, da política e da atração sexual. Para ele, a beleza pode contribuir com estas qualidades, porém não está diretamente e unicamente correlacionada a elas. Assim, pode-se encontrar beleza e sentir-se sexualmente atraído por uma pessoa, mas também poderia achar a pessoa bela e ainda assim não se sentir atraído por ela. Outra alternativa seria não achar a pessoa bela mas ainda assim se sentir atraído.


Scruton (2011) relata que quando se leva a sério aquilo que é belo, sua função deixa de ser uma variável independente e se transforma no objetivo estético. Dessa forma, a beleza de um objeto está relacionado a sua história mesmo que esta seja esquecida e seu valor negligenciado. As avenidas de Paris podem ser um exemplo dessa característica, construídas para acomodar e facilitar o movimento de tropas militares ao redor da capital, estas mesmas avenidas podem ser apreciadas por sua beleza sem fazer referência à sua origem militar. Presume-se então que o belo, apesar de possuir qualidades políticas, está diferenciado delas como se estivesse para além das qualidades mundanas.


Aquilo que é belo demanda atenção.


Porém, como diz Scruton: "Muita atenção à beleza pode derrotar seu próprio objeto." (Scruton, 2011, p.11) O autor considera que a ênfase exagerada no belo implica em uma decisão baseada em apenas um fator. Nesse sentido existe uma teoria chamada efeito Halo que explica a importância da beleza para os que enxergam apenas ela, a beleza. A teoria relata que os pensamentos positivos com relação à aparência de uma pessoa influenciam a maneira como pensamos nela e em outras características de sua personalidade. Assim, a primeira impressão que temos de algo ou alguém bonito é que suas outras qualidades também serão positivas. De forma inconsciente formamos essas opiniões sem de fato saber se aquele indivíduo ou objeto possa expressar essas qualidades. O efeito Halo seria como um erro no raciocínio baseado em um único traço que você conhece de outra pessoa ou coisa. Isso pode funcionar positiva ou negativamente em favor de outra pessoa e pode se aplicar a várias situações.


O termo "efeito Halo" foi cunhado pelo psicólogo Edward Thorndike baseado em suas observações de militares. Estes, por sua vez, deveriam classificar os subordinados com base em traços e caráter que incluíam a capacidade de liderança e inteligência. Assim, Thorndike descobriu que as aparências são as mais influentes quando se está determinando as impressões sobre o caráter de outra pessoa.


Um bom exemplo para o efeito Halo é o tal do "amor à primeira vista". Essa paixão projetada no outro tem relação com a aparência física, que de forma indireta nos faz acreditar que existem outras características positivas daquele indivíduo. Dada a extensão que o efeito halo tem em nossas vidas, pode ser difícil distinguir os vieses dos fatos. Todos nós experimentamos o efeito halo, em que julgamos outra pessoa, correta ou incorretamente, com base em um único atributo. Estar consciente desse fenômeno pode ajudar a quebrar um ciclo tão subjetivo.


Mas não é apenas no nosso dia-a-dia que julgamos as pessoas por seus atributos físicos. Em contos de fada e filmes Hollywoodianos os mocinhos são sempre lindos e os bandidos possuem algum atributo que julgamos ser 'feio'. A bruxa é a personagem que possui um nariz grande com uma verruga na ponta. A princesa é a mais linda de todos os reinos.

Apesar de não sabermos exatamente o que faz de um objeto ser mais bonito que outros, parece que confundimos essa qualidade (a beleza) com a moralidade.


Como se o belo fosse aquilo que condiz exteriormente com aquilo que se acredita encontrar interiormente.


Essa ideia de que o exterior precisa combinar com o interior remonta à Grécia antiga e as idades de ouro, prata, bronze e ferro. De acordo com o mito, a humanidade refletia cada um desses metais, sendo que na idade de ouro o interior do homem seria idêntico à suas características exteriores. Foi quando o homem passou a esconder quem ele realmente era que acontece a queda da humanidade para o status de prata. A prata, apesar de ser um metal nobre é bastante delicado, pode perder o brilho de vez em quando e por isso exige cuidados específicos para ficar o mais limpo possível. Ou seja, na idade de prata o homem precisava se cuidar para manter o exterior igual ao interior. Quando a humanidade decaiu para a idade do cobre, os esforços para manter o exterior igual ao interior dobraram, já que esse metal oxida ainda mais rapidamente. A idade do ferro seria a época em que precisava de ainda mais trabalho para garantir que a verdade interior fosse revelada pelo exterior. Tem algumas pessoas que dizem que hoje estamos na idade de plástico. Ou seja, decaímos uma vez mais e agora está ainda mais difícil de descobrir a verdade interior pois ela foi simplesmente jogada fora, na lata do lixo.


Sobre o exterior ser idêntico ao interior, I Ching: O Livro das Mutações, que descreve parte da filosofia chinesa, expõe a graciosidade (beleza) como:


"A graciosidade traz o sucesso. Mas não é essencial nem fundamental. É apenas um ornamento e por isso deve ser usada com moderação, em pequena escala." (p.87)
"A graciosidade suprema não consiste em ornamentos externos, e sim na manifestação da matéria original, embelezada pela elaboração da forma."(p.368)

Ou seja, Belo é aquilo que se é!

As coisas acontecem dentro de si.

A frustração aparece quando buscamos respostas internas nos meios externos.

;)


[ 1 ] "Almost all of our pleasures and satisfactions pin us down; they keep us within the endless cycle of wanting and longing. But with the enjoyment of beauty we are free from this: we escape from desire." (Armstrong, 2005, p.62)


[ 2 ] "Beauty gives rise to desire, and then the desire augments and deepens the sense of beauty." (Armstrong, 2005, p.65)


[ 3 ] "it does not require us to leg go of our sexual, moral, or political concerns. Yet, if we are to see it as beautiful - rather than just as good, sexy, or politically correct - we are to keep these concerns at a certain distance. (Armstrong, 2005, p.66)


Bibliografia


Armstrong, J. (2005). The secret power of beauty: why happiness is in the eye of the beholder. London: Penguin.

Kant, I. and Guyer, P. (2002). Critique of the Power of Judgement. Cambridge: Cambridge University Press.


Scruton, R. (2011) Beauty. A Very Short Introduction. Oxford: Oxford University Press.



Monique Olsen

moniquegolsen@gmail.com

Mestranda em Jung and Post Jungian Studies pela University of Essex, UK

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