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Foto do escritorGustavo Staidel

As irrealidades reais e as realidades irreais

Atualizado: 17 de mar. de 2019


Fonte da imagem: https://bit.ly/2MSgF9q
Fonte da imagem: https://bit.ly/2MSgF9q

O título desse texto pode ser um pouco confuso e estranho, porém é um jogo de palavras com o propósito de nos questionarmos melhor: o que é o real?

O real é muitas vezes associado com o que pode ser conhecido através dos sentidos. O que é possível tocar é real, o que é possível ver é real, o que cada indivíduo sente pode ser “coisas da cabeça” ou talvez algumas coisas podem ser "só imaginação”. O real é apenas aquilo que conseguimos ter acesso através dos sentidos? Talvez esse seja um pensamento que condiz com uma verdade, parece uma explicação "palpável". Porém para a psicologia analítica o real tem uma conotação mais ampla. O real não condiz com o que é apenas acessível através dos sentidos, não é o material e o concreto, isso é uma forma de realidade apenas.


Podemos seguir a frase célebre de Jung¹:

“A psique cria realidade todos os dias. A única expressão que posso usar para essa atividade é fantasia. [...] A fantasia, portanto, parece-me a expressão mais clara da atividade específica da psique”.

Há diferentes tipos de verdades, se formos seguir esse raciocínio. Há uma pluralidade de verdades psíquicas, e estas, apesar de dialogar com a realidade material, não deriva delas. Para a psicologia analítica, a imagem é primária. A realidade material também é pensada e modificada através de nossas fantasias.


Como podemos mudar a realidade de um indivíduo? Primeiro devemos nos questionar também, qual realidade estamos nos referindo?


O psicólogo não pode atuar diretamente na realidade material do indivíduo, mas pode atuar através de sua postura no mundo, sua fantasia, seus pensamentos. E essas alterações fazem alterações no mundo físico. Mesmo que o paciente tente enganar o psicólogo, ele ainda tem algo a trabalhar, Jung² diz:

“Nunca é demais lembrar que ainda existem pessoas que acreditam poder o psicanalista* ser enganado mentirosamente por seu paciente. Isto é totalmente impossível: mentira é fantasia. E nós lidamos com fantasia”.

A "realidade" assim, se tornam "irreal". Esta “realidade” me refiro como uma verdade concreta, imutável e se torna "irreal" no sentido que ela não necessariamente seja tão rígida, ela se torna perspectiva, há uma variedade de formas de perceber, pensar e sentir um mesmo evento. Essas verdades imutáveis são atravessadas por fantasias.


E a "irrealidade" se torna "real" porque não são mais apenas "coisas da cabeça", "apenas a imaginação", porém modos de presença no mundo, fantasias que contém verdades psicológicas.


Portanto propomos uma ideia diferente do real, que ao invés de se manter em polaridades (interno e externo, real e irreal, espírito e matéria) ela se mantém na fronteira. A realidade não está inteiramente contida só no interior ou no exterior, não é falso e nem verdade, ela permeia esses territórios e vira plural, pra falarmos de realidade temos de ser mais específicos do que um simples sim ou não.

“O que é essa realidade se não for uma realidade em nós, um esse in anima? A realidade viva não é dada exclusivamente pelo produto do comportamento real e objetivo das coisas, nem pela fórmula ideal, mas pela combinação de ambos no processo psicológico vivo, pelo esse in anima”³.
 

Gustavo Falavinha Staidel

Estudante de Psicologia, 8° período

 

*Neste trecho Jung utiliza o termo “psicanalista” pois na época que ele escreveu o texto ele ainda não havia rompido sua relação com Freud.


¹ JUNG, C. G. Tipos Psicológicos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. (Obras completas de C. G. Jung, v.6).

² JUNG, C.G. Freud e a Psicanálise. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. (Obras completas de C. G. Jung, v. 4).

³ JUNG, C. G. Tipos Psicológicos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. (Obras completas de C. G. Jung, v.6).


Referência de base:

JUNG, C. G. A natureza da psique. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. (Obras completas de C. G. Jung, v. 8/2).

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