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Amor X Poder

Atualizado: 18 de ago. de 2019




Acredito que Amor é um dos conceitos mais difíceis de se definir, porém é um dos conceitos mais utilizados na psicologia analítica, afinal, parece que quando se trata do desenvolvimento pessoal, o amor é como uma Pedra Filosofal.


Os alquimistas buscavam encontrar a fonte de toda a existência, que seria a Pedra filosofal, o lápis philosophorum, o ouro eterno. Para os adeptos, passar pelas diferentes etapas da alquimia e suas misturas no laboratorium significaria encontrar essa fonte inesgotável de vida. De acordo com Von Franz (1997, p.179-180):


“a pedra parece ser um símbolo antiquíssimo do eterno, do duradouro que há no homem, ... A pedra significava a constância, que deveria manter, sem jamais renunciar à sua meta. Aquele que possui a Pedra não pode ser ‘dissolvido’ pelas influências coletivas nem por problemas interiores, decorrendo daí o sentimento de que a pedra é uma parte da pessoa que pode sobreviver a todas as coisas.”


Porém, como diz Jean Shinoda Bolen (1999, p.10-11) nós, a humanidade, viemos para um mundo orientado pelo poder buscando ser amados. Assim, como muitos confundiram o lápis philosophorum com ouro material e não com o ouro eterno e purificado, algumas pessoas acabam por trocar o amor por bens materiais.



Jung na OC 6 (Tipos Psicológicos) relata que amor e poder são antagônicos pois “where love is, power cannot prevail, and where power prevails, love cannot reign.” "Aonde o amor está, o poder não prevalece, e aonde o poder prevalece, o amor não reina." (Jung, 1923, CW6, §408, tradução nossa).


Dessa forma, quando descobrimos que somos amados apenas por aquilo que produzimos no mundo e não por quem somos, o poder caba por substituir o amor. Assim, passamos a buscar aquilo que o amor antes providenciava sem preconceitos, o sentimento de segurança e de aceitação da nossa verdade interior, através daquilo que reconhecemos no mundo, o poder. Ou seja, quando se troca o amor por poder, perde-se o valor de si mesmo, o indivíduo acaba terceirizando seu valor em suas conquistas e naquilo que produz. Assim, o valor da verdade interior é mascarado por relacionamentos superficiais baseados no poder, controle e manipulação.


Nós somos uma sociedade da qual o poder sobre nós mesmos e sobre os outros é mais importante que o amor, que a beleza e que o prazer. Recebo muitos pacientes com um quadro patológico com relação aos seus trabalhos, família, sem círculo de amizades e que, de acordo com eles, precisam aprender a se dominar ainda mais... Eles relatam: 'Ah se eu tivesse controle sobre a minha memória, meus sentimentos,... Ah se eu conseguisse controlar melhor meu tempo...’

Estamos tão confusos dentro de nossa busca de poder que esquecemos de nos amar, nos cuidar. É como se esse ato de autocuidado não importasse mais. O que importa é a produtividade. Nesses momentos aparecem as doenças psicossomáticas, as confusões de sentimentos e o desprezo por outros seres humanos. Estou falando aqui sobre quando o amor é completamente suplantado pelo poder, na maioria dos casos acontece um misto entre esses dois aspectos da nossa personalidade e do mundo em que vivemos, no qual aquilo que se produz é mais importante que quem somos realmente. Assim, quem possui mais dinheiro (grande símbolo de poder atualmente) é mais importante que o que nos conecta com nossas verdades. Dinheiro como algo mais valioso que admirar a beleza de um por do sol, por exemplo.


Cada pessoa precisa decidir qual vai ser o princípio regulador de sua psique, amor ou poder, assim como Bolen (1999, p.12, tradução nossa) descreve:


"Nós viemos para o mundo com a capacidade inerente de amar os outros e de nos sentir bem sobre nós mesmos quando nós amamos e fazemos aquilo que amamos.

Autenticidade e integridade ou harmonia interior são escolhas relacionadas, feitas com base naquilo que somos e naquilo que amamos.

Depressões, ansiedade, violência, e vícios que anestesiam a dor e criam mais dor aparecem quando não nos sentimos como tendo escolhas, quando não podemos amar, quando somos divididos por facções internas em conflito, quando temos medo e suprimimos o que realmente sentimos ou tememos ser reconhecido como verdadeiro.

A cura começa quando reconhecemos a verdade da nossa condição."

Dessa forma, uma pergunta importante seria, qual o preço que pagamos pelo nosso orgulho?

Poder nunca irá suplantar a sensação de segurança que o amor traz! Dessa forma é importante que aprendamos a reconhecer nossos sentimentos, assim sendo capazes de fazer escolhas autenticas baseadas no amor.


Bibliografia

Bolen, Jean Shinoda (1999) Ring of Power: a Jungian Feminist Perspective. Nicolas-Hays, Inc.


Jung, Carl G. (1923) Psychological Types. Princeton (N.J>): Princeton University press.


Von Franz, Marie-Louise. (1997) C.G. Jung: seu mito em nossa época. São Paulo: Cultrix





Monique Olsen

moniquegolsen@gmail.com

Mestranda em Jung and Post Jungian Studies pela University of Essex, UK

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